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Aos Mortos Que Ainda Vivem e Podem Ser Despertados

     "Outrora outorgavam a existência e perpetuavam a permanência, suplantavam e burlavam a morte como vestígios de legados pontuados por representações da existência do duplo humano, que do corpo transcendiam. Relicários imagéticos estimulavam o acúmulo da ausência transfigurados em presença. Mas o palimpsesto moderno tratou de transformar tudo em contradições e volatizou os vestígios em liquefação de culturas efêmeras, que não mais deram conta a nos definir, quiçá em deixar algum tipo de recordação. Somos nossos próprios vestígios a vagar por avatares impermanentes que nos vestem superficialmente com uma tênue pele cultural em constante transformação. Efemérides em busca de significação".​

            A contradição entre “o ser e o ter” foi o ponto de partida para o desenvolvimento de um projeto que ainda está a acontecer, mas já começa a ganhar corpo e porque não dizer personalidade. Seria mais pontual dizer que a concepção está no ter em detrimento do ser, o automatismo do acúmulo sobreposto à complexidade da experiência, enfim, a não compreensão do efêmero pelo aprisionamento dos sentidos. Claro está, que começamos a trafegar por tênues linhas conceituais e materializá-las não deixará de ser, também um estado de contradição e apostar na metalinguagem pela fotografia é decerto arriscado, mas uma centelha de reflexão representa vários degraus em nossa infindável escadaria perceptiva.

       A evolução do trabalho se dá, sem dúvida, pelo desenvolvimento do projeto, os vários pontos de bifurcação que nos leva a racionalizar, ponderar, refletir e escolher qual caminho trilhar, mas a materialização do projeto, o realizar de fato e a integração com um o expectador é fator preponderante e imprescindível ao retorno às intencionalidades e reavaliar das propostas, tanto de âmbito conceitual quanto em sua materialidade.

Minha proposta aqui, é de gerar uma forma híbrida de fotografia onde o espaço se configura como linguagem e desperta novos vetores que dialogam entre si e com os expectadores.

     O amalgamar da fotografia em suas estâncias tecnologicamente evoluídas ou em resgates dos processos históricos com as possibilidades de suportes e como o espaço os suporta sem hierarquizar nenhum tipo de linguagem, ao meu ver pode contribuir no equilíbrio entre experiência e mediação, entre ser e ter no âmbito reflexivo. Essa tríade, fotografia, suporte, espaço numa proposta de ocupação com a possibilidade de imersão, pode nos levar à vala comum do esquecimento e desfrutar de pequenos fragmentos de memória. Pode nos possibilitar, mesmo que brevemente uma instância de experiência estética, para que possamos sentir antes de racionalizar e refletir.

      No final das contas somos todos máscaras mortuárias ambulantes presos ao passado que já desconhecemos, e a impermanência, ou as máscaras impermanentes são uma proposta de resgate de memória pelos sentidos.

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